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Mostrando postagens de março, 2020

MEU PÉ, MEU POBRE PÉ

Meu pé, meu pobre pé Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre Em nosso espírito sofrer pedras e setas Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, Ou insurgir-nos contra um mar de provocações E em luta pôr-lhes fim? Morrer… dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia E as mil pelejas naturais-herança do homem: Morrer para dormir… é uma consumação Que bem merece e desejamos com fervor. Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo: Pois quando livres do tumulto da existência, No repouso da morte o sonho que tenhamos Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios. Quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo, O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, Toda a lancinação do mal-prezado amor, A insolência oficial, as dilações da lei, Os doestos que dos nulos têm de suportar O mérito paciente, quem o sofreria, Quando alcançasse a mais perfeita quitação Com a ponta de um punhal?

OS VIVOS, OS MORTOS E OS OUTROS

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Folha da Manhã, 31 de março de 2020 Os vivos, os mortos e os outros Edgar Vianna de Andrade             Até pouco tempo atrás, eu considerava o filme “A noite dos mortos vivos”, de George Romero (1968) como o marco divisor de dois paradigmas de zumbis: o zumbi sobrenatural e o zumbi resultante de contágio. A data marcava a passagem do zumbi sobrenatural, portanto personagem de terror, para o zumbi natural, personagem de ficção científica. Considero agora, provisoriamente, o ano de 1954, quando o escritor e roteirista estadunidense Richard Matheson (20/02/1926 – 23/06/2013) lançou o livro “Eu sou a lenda”. Ele também escreveu vários contos que ganharam as telas, como “O incrível homem que encolheu”, “Peitos gelados” e “Encurralado”, um dos primeiros filmes de Spielberg.              Tenho um exemplar de “Eu sou a lenda”, mas nunca o li. Ele gerou três filmes: “Mortos que matam” (“The last mano an Earth” – 1964), de Ubaldo Ragona e Sidney Salkow, tendo Vincent Price no papel

AINDA O CORONAVÍRUS

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 29 de março de 2020 Ainda o coronavírus Arthur Soffiati             Não podemos comprovar cientificamente que Deus está castigando a humanidade com essa nova pandemia viral. Não podemos demonstrar que o Diabo mandou o novo coronavírus para nos flagelar. Não podemos mostrar que o vírus é um mal que Deus deixou atingir a humanidade para castigar a sua soberba. Não há provas convincentes de que o vírus é fruto de laboratórios chineses para ferir os Estados Unidos nem de que os Estados Unidos inventaram o vírus para afastar a concorrência chinesa na economia. Não há como demonstrar que o vírus foi criado como arma de guerra e escapou do controle.             Por outro lado, não há como confirmar que a nova pandemia é uma ficção, tratando-se apenas de uma invenção para beneficiar alguém, alguma empresa e algum país. Ela está aí, adoecendo pessoas, levando outras para os hospitais e já conduzindo outras mais para os cemitérios. Nem tanto nem tã

MODERNIDADE E MODERNISMO NO RIO DE JANEIRO NOS ANOS 20

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 26 de março de 2020 Modernidade e modernismo no Rio de Janeiro nos anos 20 Arthur Soffiati             Há uma diferença entre modernidade e modernismo. A modernidade começa na segunda fase da civilização ocidental, considerando-se que a Idade Média não é uma fase intermediária entre o que se denomina, erroneamente a meu ver, de Antiguidade. Assim, a Idade Média deve ser vista como a idade primeira da civilização ocidental. A segunda fase começa no século XV. Em termos culturais, é a fase do Renascimento, em que a modernidade começa a se definir. Situemos Descartes, no século XVII, como o primeiro grande moderno. O projeto dele foi separar natureza de humanidade, corpo de mente, religião de filosofia. Ao mesmo tempo, ele transporta para seu pensamento laico a concepção judaica de mundo: a história da humanidade é linear, ascendente, expansionista e finalista. Trata-se de uma visão teleológica em direção ao progresso. Se, na civilização he

CINEMA EM TEMPOS DO CÓLERA

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 24 de março de 2020 Cinema em tempos do cólera Edgar Vianna de Andrade             Existem promissoras portas em Hollywood e em outros centros de produção cinematográfica por onde saem filmes para aterrorizar a humanidade com assustadores perigos. São filmes que abordam os riscos que os humanos correm com bombardeios independentes deles ou originados por eles mesmos.             Do maior para o menor, há filmes sobre a possível nova colisão de um corpo celeste com a Terra, como aconteceu há 66 milhões de anos e que extinguiu os grandes dinossauros. Já que os cientistas estão considerando as aves como um grupo de dinossauros pequenos, não se pode falar em extinção completa. Hoje, criamos dinossauros no fundo do quintal ou em granjas para comer a sua carne e os seus ovos.               Há também filmes sobre OVNIs que trazem seres extraterrestres amigos ou inimigos dos terráqueos, assim também como doenças de outros planetas. Na T

SUGESTÕES DE FILMES PARA A QUARENTENA

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 18 de março de 2020 Sugestões de filmes para a quarentena Edgar Vianna de Andrade Mesmo antes da quarentena por causa do coronavírus, eu já vivia mais recluso na minha casa, ouvindo música, lendo, assistindo a filmes e escrevendo. Para aqueles que gostam mais da rua e do trabalho que de casa, ouvir música, ler e assistir a filmes é um bom exercício de paciência, além de elevar o espírito. Cada um tem seu gosto, mas sugiro alguns filmes disponíveis na Netflix, embora minha coleção de DVDs supere qualquer plataforma. 1- Match point, de Woody Allen não é uma comédia, como se poderia supor vindo de que vem, mas uma mistura de tragédia grega com teoria do caos. Na tragédia, tudo é previsto no início e tudo acontece por não se poder driblar o destino. Na teoria do caos, reina o imponderável e tudo é imprevisível.   2- A noite dos mortos vivos, de George Romero, de 1968, filme que mudou o paradigma dos zumbis. Antes, o zumbi era um mort

O MANGUE DO RIO ITABAPOANA E A PINTURA

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O mangue do rio Itabapoana e a pintura Arthur Soffiati Sempre que um especialista em manguezal escreve sobre ele, começa por explicar o que vem a ser este ecossistema. Se ele escrever cem artigos, cem vezes o núcleo central do escrito será precedido pela inevitável definição, como se o leitor nunca aprendesse o que vem a ser um manguezal. Creio que não existe essa necessidade quando se escrever sobre a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, a Amazônia. Neste artigo simples sobre a obra de um autor que representa o manguezal do rio Itabapoana em suas pinturas, a necessidade de explicar, ainda que de forma sumária, o que vem a ser um manguezal, torna-se indispensável. Sobretudo porque, aqui, o destinatário é mais alguém interessado em arte que em ecossistemas vegetais nativos. Em segundo lugar, é também imprescindível escrever algumas palavras sobre o rio Itabapoana, pois se trata de um pequeno curso d’água pouco conhecido no Sudeste, no Brasil e no mundo. Manguezal, ou simplesme

CORONAVÍRUS: UMA INTERPRETAÇÃO ECOLÓGICA

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 22 de março de 2020 Coronavírus: uma interpretação ecológica Arthur Soffiati             Pelos meios de comunicação, sobretudo pelas redes de televisão, as informações sobre cuidados com a higiene pessoal e as orientações para não criar pânico invadem as residências mais que o próprio vírus da novo Corona. Estamos tão imersos no dia a dia da pandemia que não nos interessa saber as causas profundas das doenças transmissíveis. As TVs dedicam tanto tempo insistindo no controle do pânico que as pessoas acabam concluindo que deve haver algo perigoso e que mereça pânico.             Em perspectiva histórica, as epidemias ganham terreno cada vez mais amplo quanto maior a expansão de alguma civilização. A peste negra, no século XIV, veio da Ásia e provocou mortandade em massa na Europa Ocidental. O contato principal entre oriente e ocidente era, então, feito pelos muçulmanos e venezianos. Foi por eles que a bactéria causadora da peste entrou na E