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Mostrando postagens de maio, 2020

DEPOIS DA PANDEMIA

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 31 de maio de 2020 Depois da pandemia Arthur Soffiati             Não se passa de uma estrutura econômico-social para outra em um ano. A trajetória humana não se divide em pré-história e história, com a invenção da escrita como marco divisório. A escrita não apareceu como milagre para promover a humanidade da situação de barbárie à de civilizada. A escrita é fruto de um processo de grandes transformações. O fim da antiguidade – nome impróprio – e o começo da idade média não se processou em um ano. A ordem antiga não terminou em 476, com a queda do último imperador romano, dando origem à idade média. Esta não acabou no último dia de 1453, ano em que os turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla. A idade moderna não terminou em 1789, com a queda da Bastilha, data em que teria começado a idade contemporânea.             Os livros didáticos ainda se valem dessas grandes divisões. Os cursos superiores de história ainda se estruturam d

DO AÇU AO FURADO: A COSTA DE CAMPOS

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Do Açu ao Furado: a costa de Campos Arthur Soffiati             Uma das mais antigas referências ao cabo de São Tomé e à costa que, historicamente, viria a ser incluída no município de Campos dos Goytacazes deve-se ao famoso navegador e cartógrafo português Luís Teixeira em “Roteiro de todos os sinais na costa do Brasil” (Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1968) provavelmente de 1586. Ele escreveu nesse documento sobre o cabo de São Tomé que ali “há uma restinga que entra dentro no mar 3 ou 4 léguas e é todo banco de areia e dar-lhe-ei aquele resguardo que me parecer que logo verei na serra de Santo André um pico muito alto como um castelo e este é o melhor conhecimento que se tem. Há muito bom mar para surgir, muito limpo de areias e assim mesmo fica da banda do nordeste uma montanha muito grande e muito grossa com um pico muito agudo e delgado todo. A restinga dentro do mar é um banco de areia resultante do processo de erosão do cabo pelas fortes correntes marinhas.

NO TEMPO DO STOP MOTION

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 25 de maio de 2020 No tempo do stop motion Edgar Vianna de Andrade             Desde seus primórdios, cinema é truque. No sentido literal, stop motion significa ‘parar o movimento’. No jargão cinematográfico, quer dizer quadro-a-quadro, técnica de animação em que um objeto é fotografado numa posição. Em seguida, numa outra, muito próxima da primeira, e assim sucessivamente. Depois, os negativos são reunidos e colocados em movimento atrás da luz. A projeção confere ao conjunto a visão de movimento.             O cinema, em si, é uma forma de quadro-a-quadro. Para se obter um movimento convincente, devem ser usados 24 quadros por segundo pelo menos. Cada quadro, chama-se fotograma. Reunindo-se 24 fotogramas sobre uma mesma cena, a cada segundo tem-se o movimento completo. Isso vale para os chamados desenhos animados.             Mas quando se coloca, por exemplo, um animal de massa cuja posição deve ser mudada e fotografada para que o co

SÉRGIO SANT'ANNA E A NATUREZA

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 22 de maio de 2020 Sérgio Sant’Anna e a natureza Arthur Soffiati             Cá estou eu novamente fazendo algo de que não gosto: escrever sobre um autor que aprecio tendo a sua morte como gatilho. Como no caso de Rubem Fonseca, eu devia esse artigo a um aspecto da obra de Sant’Anna e nunca o escrevi enquanto ele estava vivo. A gente pensa que certas pessoas nunca morrerão, esquecendo de que são humanas. Mas não dizem que algumas são imortais? Sérgio Sant’Anna é imortal a despeito do Covid-19. Portanto, o artigo que escrevo parte da premissa de que ele está vivo em sua obra.             Não posso dizer que sou um leitor empenhado dele, assim como não fui de Rubem Fonseca. Li apenas cinco livros de contos de Sant’Anna. O primeiro foi “O voo da madrugada”, publicado em 2003. Eu voltava de Cuiabá, onde fui ministrar um minicurso. No aeroporto, encontrei uma aluna do curso que tomou coragem para me dizer que notara em mim tendências suicidas

PANDEMIA NA LUA

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 19 de maio de 2020 Pandemia na Lua Edgar Vianna de Andrade             Poucas pessoas sabem que existiu na Lua uma civilização avançadíssima. Foram seres em forma de abelhas gigantes que a constituíram. Esses seres desenvolveram sistemas moto-perpétuos movidos à energia solar e sistemas sofisticados de comunicação com tradutores de qualquer língua. O governo era centralizado. Não havia guerra. Quando as abelhas operárias não tinham mais o que fazer, eram adormecidas até serem novamente necessárias. Não havia desemprego. Não era necessária remuneração, pois elas não gastavam energia quando adormecidas. Acima de tudo, a ciência e a paz, embora o governo fosse único e centralizado. Uma sociedade-colmeia muito superior à nossa.             Tratava-se de um mundo bem parecido com o que sonhava o socialista H.G. Wells. Ele foi descoberto com a primeira viagem feita à Lua por um cientista, um homem de negócio e sua noiva em 1899. O professor to

CONCEITOS TRANSDISCIPLINARES

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 24 de maio de 2020 Conceitos transdisciplinares Arthur Soffiati                 Certos conceitos oriundos das chamadas ciências naturais e sociais têm caráter transdisciplinar, ou seja, podem transitar de um campo do conhecimento a outro, como demonstrou Isabelle Stengers num estudo pouco conhecido entre nós ( D’une science à l’autre: des concepts nomades . Paris: Du Seuil, 1987). O emprego deles numa abordagem transdisciplinar não é ecletismo. Os cientistas sociais, sobretudo, olham de través os pensadores que empregam conceitos de vários campos do conhecimento por entenderem que eles são propriedade de cada campo do saber. O raciocínio transdisciplinar cria um supercampo de conhecimento em que ele se movimenta.             Modo de produção, dasafio-resposta, estratégia e táticas, lugar e risco são conceitos eminentemente transdisciplinares. Com exceção de modo de produção, proposto por Marx, os de desafio-resposta empregado por Toynb

VENDO MIRAGENS

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 17 de maio de 2020 Vendo miragens Arthur Soffiati             Com muita frequência, ouve-se falar em civilização, barbárie, modernidade, modernismo e outros tantos conceitos não devidamente explicitados. Vou me deter hoje no conceito de modernidade. Ele foi construído no mundo ocidental a partir do século XVII, com o avanço do laicismo sobre o espírito religioso. É difícil definir seu marco inicial. Há quem considere o Renascimento, na verdade, o início da idade de consolidação da civilização ocidental. Há que o situe em Descartes, no século XVII ou nas “Cartas sobre a tolerância”, de John Locke, iniciadas também no final do século XVII.             O projeto da modernidade é grandioso e não representa uma ruptura profunda com a concepção judaico-cristã. Ele rompe com esta concepção e, ao mesmo tempo, a conserva. Segundo a visão de mundo judaico-cristã, a história começa num ponto inferior para avançar em forma de uma linha que vai engros

PASSADO, PRESENTE E FUTURO

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 12 de maio de 2020 Passado, presente e futuro Edgar Vianna de Andrade             Com roteiro de H.G. Wells e Lajos Biro, produção de Alexander Korda e direção de William Cameron Menzies, foi lançado em 1936 o filme “Daqui a cem anos”. O filme inglês é considerado um marco na ficção científica pelo roteiro, direção, orçamento e efeitos especiais. Ele começa com um tom pessimista e profético. Um personagem pessimista e cerebral, talvez o alterego de Wells, prevê o início de uma guerra em 1940. Errou por um ano. O clima era favorável a um conflito mundial, pois nazismo e fascismo adotaram posição belicosa e expansionista numa Europa tolerante com Hitler principalmente.             No filme, a guerra eclode e leva a civilização à barbárie, algo bem típico do pensamento socialista. Wells era um socialista convicto, mas à moda britânica. Ocorre um retrocesso brutal em termos de organização social e cultura. Uma grave epidemia assola aqueles q

PICADA MORTAL

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Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 05 de maio de 2020 Picada mortal Edgar Vianna de Andrade             Uma base militar é retomada por soldados fortemente armados. Em frente dela, uma caminhonete parada e vazia parece suspeita. Os militares descem andar por andar. Encontram todos mortos. Mas, de uma porta, aparece um vivo que recebe voz de prisão. Ele se apresenta como entomólogo, mas não convence. Os militares conferem seus documentos junto ao alto comando. Sim, é um entomólogo renomado, talvez o maior do mundo, como os Estados Unidos gostam de mostrar nos filmes. Mas não apenas isso: ele é designado para assumir o comando da operação com todos os militares tendo de obedecer suas ordens. O ataque à base e as mortes não se devem a inimigos russos (estávamos no tempo da guerra fria), mas a abelhas africanas.             Esse é resumo do início do filme “O enxame”, de Irwin Allen, o mestre do cinema-catástrofe. Ele ficou conhecido por “ Inferno na torre” ou “ A torre do i