Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2020

2020: O ANO PERFEITO

  Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 26 de setembro de 2020 2020: o ano perfeito             Está na moda falar-se em tempestade perfeita. Como considerar uma tempestade perfeita? Imaginemos um evento não favorável agravado por outros fatores. Pode ser em qualquer setor. Por exemplo: a situação econômica do Brasil estava beirando o caos. Com o advento da covid-19, afundou no caos. Uma verdadeira tempestade perfeita. Não gosto de caracterizações simplificadoras. Ainda no Brasil, pensemos na conjugação crise social-governança sofrível-pandemia. Trata-se de uma combinação excelente para os especialistas taxarem-na de tempestade perfeita. Mas nada é tão perfeito que não possa se tornar mais perfeito ainda ou mais imperfeito. Se mais perfeito, pior. Se mais imperfeito, menos pior. Fica difícil uma situação perfeita tornar-se boa repentinamente, ainda mais que o imperfeito, nesse sentindo, é o melhor ou menos pior.             Como a conjunção perfeita é sinônimo de algo muito ruim

UM CASO DE AMOR EM MEIO À EPIDEMIA

Imagem
Folha da Manhã, Campos do Goytacazes, 23 de setembro de 2020  Um caso de amor em meio à epidemia Edgar Vianna de Andrade             Raros são os filmes sobre doenças contagiosas produzidos de forma consistente. Ou lhes falta roteiro ou lhes falta direção. Excluirei os filmes em que as pessoas contaminadas se transformam em zumbis. Existem muitos. Geralmente, eles são construídos como metáforas. A economia, a sociedade e a cultura padronizantes transformam as pessoas em zumbis. E a coisa pega.   Já comentei os filmes relacionados a “Extermínio”, ambos sobre epidemia de zumbis. “Rec” é um filme de terror misturado com ficção científica. “Ensaio sobre a cegueira” tem um objetivo claramente político. “Demente” é também um filme que denuncia as artimanhas do capitalismo. “Os doze macacos” mergulha muito na ficção científica, com viagens no tempo e transmissão por viajantes.             Eu destacaria três que merecem mais atenção: “ Sentidos do amor”, “O enigma de Andrômeda” e “Contág

AS CINCO PANDEMIAS DA HUMANIDADE

  Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 05 a 19 de setembro de 2020 As cinco pandemias da humanidade             Durante cerca de um milhão de anos, as sociedades dos hominídeos viveram da coleta, da pesca e da caça. O nomadismo era muito frequente. Essa mobilidade contribuía para escapar-se das doenças infecciosas causadas por microrganismos. Elas ocorriam, mas não eram endêmicas. Morria-se mais por acidente, ataque de animais e guerra. Com a sedentarização de algumas sociedades, a partir de dez mil anos passados, tudo mudou. A agricultura passou a produzir alimentos em parte guardados para períodos de escassez. Estocados, eles atraíam roedores que, normalmente transportavam vírus e bactérias. Insetos picavam os animais e picavam os humanos, transmitindo-lhes doenças muitas vezes mortais.             A peste bubônica, transmitida pela bactéria “Yersinia pestis”, e outras doenças infecciosas eram muito comuns. Com a criação das primeiras civilizações e das cidades, as doenças se

LIXO DE RUA

Imagem
  Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 16 de setembro de 2020 Lixo de rua Edgar Vianna de Andrade             A rigor, o título da crítica é o mesmo do filme dirigido por J. Michel Muro, em 1987, com roteiro de Roy Frumkes, nos Estados Unidos. Ele foi colocado na prateleira do gênero “terror”, sempre carente de critérios. Na verdade, trata-se de uma comédia cáustica ao estilo de “Feios, sujos e malvados”, do genial Ettore Scola, lançado em 1976. Suspeito até que o filme de Scola inspirou o de Muro, tais as semelhanças entre ambos. A questão é que o título original do filme de Muro é “Street trash”. Talvez pelo título ele tenha sido considerado um filme trash, que não é um gênero. Trash é uma palavra muito ampla para caracterizar um gênero. Drama, comédia, suspense, terror podem figurar na categoria trash. Da minha parte, tanto “Street trash” quanto “O pneu assassino” poderiam ser exibidos no cineclube para discussão.             “Street trash” é ambientado num ferro velho cuj

UMA VEGETAÇÃO TROPICAL NA PLANÍCIE GOITACÁ ONTEM E HOJE

Imagem
  Campos Magazine News, Campos dos Goytacazes, 25 de outubro de 2019 Uma vegetação tropical na planície goitacá ontem e hoje Arthur Soffiati Todo artigo e livro sobre manguezais começa explicando que eles, os manguezais, são um ecossistema de transição entre a terra e o mar. Há mais detalhes nas definições, mas o fundamental é sempre repetido. Os estudiosos do manguezal se assemelham aos apreciadores de música erudita que desejam levar seu prazer a todos ou a muitos. É o desejo de educar quase sempre malsucedido. Desde adolescente, ouço o discurso de que as orquestras sinfônicas devem executar música popular (até mesmo as péssimas) ao lado das eruditas (de preferência facinhas) para educar as pessoas. Ao longo de minha vida, essa experiência vem sendo feita pelas orquestras e, a partir dos anos de 1980, a música popular vem se tornando mais pobre, ao mesmo tempo em que a música erudita não se torna mais rica. Com os manguezais, acontece algo parecido. Por mais que os estudiosos

MANGUE VERMELHO: NOTAS DE UM HISTORIADOR

Imagem
  Mangue vermelho: notas de um historiador Arthur Soffiati Vermelho é o mangue/Vermelho o aratu/Vermelho é o sangue/Vermelho o caju/Vermelho o guará/Também o guaraná/Vermelho é o tiê/Vermelho a pitanga. Mangue vermelho: marca registrada e símbolo da globalização do manguezal             O gênero “Rhizophora” está presente, com suas várias espécies, em todos os manguezais do planeta. Assim como a atmosfera e a vida, o manguezal está presente em todo o mundo intertropical, avançando um pouco acima do trópico de Câncer e um pouco abaixo da trópico de Capricórnio. De preferência, nos estuários, mas também em certas ilhas e certas praias que lhe oferecem condições mínimas para prosperarem. O mangue vermelho estava presente na origem desse ecossistema tão singular, no Sudeste Asiático. Dali, ele navegou a leste e a oeste, passando pela seleção natural, adaptando-se e gerando novas espécies. Sempre com sua característica: o caule se ramifica e assume o aspecto de uma aranha. Sua semen