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TIRO PELA CULATRA

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 02 de junho de 2020 Tiro pela culatra Edgar Vianna de Andrade             Nas proximidades de uma pacata cidadezinha do interior norte-americano, um objeto voador não identificado se choca contra o solo. Nos filmes estadunidenses, é muito comum que eventos de alcance mundial comecem em pequenas cidades. Elas sempre contam com invejáveis viaturas da polícia e dos bombeiros. Autoridades e voluntários correm para o local. Trata-se, aparentemente, de um meteoro. Voluntários apagam o fogo. Um cientista é logo convocado para opinar. Segundo ele, se fosse um meteoro, uma cratera profunda se formaria com a colisão e isto não aconteceu. Quem interpreta o cientista é Gene Barry, artista que imortalizará o caubói da série Bat Masterson, não fazendo muito mais que isso. Logo aparece a mocinha mais bela e mais frágil da cidade.   Seu nome é Sylvia, desempenhada por Ann Robinson. Ele já morreu, ...

A SUPERIORIDADE DOS SERES INFERIORES

Folha da Manhã, 07 de junho de 2020 A superioridade dos seres inferiores Arthur Soffiati             No início do século XX, um homem, provavelmente cientista, é chamado ao observatório de Ottershaw, em Londres, onde examina explosões na superfície de Marte. Mais tarde, um meteoro de forma cilíndrica cai nas proximidades da casa do narrador inominado. O cilindro se abre e de dentro dele saem veículos que caminham sobre tripés – os tripods. Esses veículos transportam armas das quais saem raios fulminantes que destroem tudo o que encontram pela frente. Os marcianos estão invadindo a Terra.             O cientista, então, foge com sua mulher para Leatherhead, mas volta para devolver a carruagem que tinha pedido emprestada. Honestidade em meio a uma guerra. Começa a haver a evacuação em massa de Londres, então mais que a capital da Inglaterra, mas considerada o centro do m...

AINDA A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

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Ainda a semana do meio ambiente Arthur Soffiati             Querem ouvir de mim o que não posso mais falar. São poucas as pessoas que me desejam ingênuo e otimista. Geralmente jovens. Poucas porque não são muitos aqueles que se interessam pela questão ambiental de maneira mais intensa. Não sei se essas poucas pessoas têm algum ativismo militante. Talvez os tempos sejam outros e não exigem participação ativa. Só sei que elas não gostam de ler o que escrevo. Não que me censurem. Apenas acham que perdi a esperança, que me tornei cético e pessimista. Na verdade, as pessoas resumem as posturas em otimistas e pessimistas. Frequentemente, ouço declarações públicas de pessoas que se dizem otimistas ou pessimistas diante de alguma situação. “Sou pessimista quanto ao futuro do mundo”. “Sou otimista quanto ao futuro do Brasil”. Pergunto-me em que bases essas pessoas se apoiam para serem otimistas ou pessimistas. Certa vez, numa pale...

DO ITABAPOANA AO PARAÍBA DO SUL

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Do Itabapoana ao Paraíba do Sul Arthur Soffiati             Se eu pudesse sair de casa para testemunhar os fenômenos relacionados a cursos d’água na faixa costeira que se estende do rio Itabapoana a Barra do Furado, sem dúvida que eu já a teria percorrido com muita atenção. Da foz dos rios Itabapoana, em toda sua extensão divisa entre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, até o Paraíba do Sul, predominam dois terrenos: os tabuleiros com, pelo menos, 5 milhões de anos, e uma restinga nova, formada em torno dos últimos 2.500 anos.             Essa extensa costa não é cortada apenas pelos rios Itabapoana, Guaxindiba e Paraíba do Sul, como superficialmente pode-se concluir. Entre os rios Itabapoana e Guaxindiba, ainda aparecem as pegadas de córregos que devem ter sido mais pujantes ainda no século XIX, quando a maior parte do território hoje correspondente ao municí...

SEMANA DO MEIO AMBIENTE MELANCÓLICA

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A SEMANA DO MEIO AMBIENTE, QUE COMEÇA HOJE, TEM SIDO TÃO NEGLIGENCIADA QUANTO O PRÓPRIO MEIO AMBIENTE, AINDA MAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA. ESQUECI QUE ELA COMEÇA HOJE. FOI O AMIGO ROGER QUE ME LEMBROU DELA. ENTÃO, PARA NÃO ME CALAR, ESCREVI UM ARTIGO NÃO MUITO AGRADÁVEL PARA QUEM DESEJA OUVIR BELAS PALAVRAS. Semana do meio ambiente melancólica Arthur Soffiati             Nunca o dia e a semana do meio ambiente foram mais oportunos como em 2020. De 1972, quando foi instituído o Dia Mundial do Meio Ambiente, na Conferência de Estocolmo, à Conferência Rio-92, Rio+20 e tantas conferências de cúpula sobre aquecimento global, biodiversidade e outras sobre problemas ambientais em níveis mundial, nacionais, estaduais e municipais, entendeu-se que um dia é pouco para discutir a crise ambiental em diversos âmbitos. Então, foram acrescentados mais seis dias e criada a “Semana do meio ambiente”.      ...

DEPOIS DA PANDEMIA

Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 31 de maio de 2020 Depois da pandemia Arthur Soffiati             Não se passa de uma estrutura econômico-social para outra em um ano. A trajetória humana não se divide em pré-história e história, com a invenção da escrita como marco divisório. A escrita não apareceu como milagre para promover a humanidade da situação de barbárie à de civilizada. A escrita é fruto de um processo de grandes transformações. O fim da antiguidade – nome impróprio – e o começo da idade média não se processou em um ano. A ordem antiga não terminou em 476, com a queda do último imperador romano, dando origem à idade média. Esta não acabou no último dia de 1453, ano em que os turcos otomanos tomaram a cidade de Constantinopla. A idade moderna não terminou em 1789, com a queda da Bastilha, data em que teria começado a idade contemporânea.             Os li...

DO AÇU AO FURADO: A COSTA DE CAMPOS

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Do Açu ao Furado: a costa de Campos Arthur Soffiati             Uma das mais antigas referências ao cabo de São Tomé e à costa que, historicamente, viria a ser incluída no município de Campos dos Goytacazes deve-se ao famoso navegador e cartógrafo português Luís Teixeira em “Roteiro de todos os sinais na costa do Brasil” (Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1968) provavelmente de 1586. Ele escreveu nesse documento sobre o cabo de São Tomé que ali “há uma restinga que entra dentro no mar 3 ou 4 léguas e é todo banco de areia e dar-lhe-ei aquele resguardo que me parecer que logo verei na serra de Santo André um pico muito alto como um castelo e este é o melhor conhecimento que se tem. Há muito bom mar para surgir, muito limpo de areias e assim mesmo fica da banda do nordeste uma montanha muito grande e muito grossa com um pico muito agudo e delgado todo. A restinga dentro do mar é um banco de areia resultante do proce...