RESTINGAS E MANGUEZAIS
Restingas e manguezais
Arthur Soffiati
Até cerca de 15 mil anos passados,
os continentes eram mais amplos porque o nível dos oceanos era mais baixo. Em
grande parte, a água estava concentrada em geleiras. Nesse mundo que não existe
mais, havia restingas e manguezais. Vamos definir sumariamente os dois
ambientes. Restinga não é um ecossistema vegetal, mas uma formação geológica
constituída de areia capturada por um sistema rochoso ou hídrico, como o jato
de um rio desembocando no mar, por exemplo. Sobre essa extensão arenosa,
costumam crescer plantas de diversas espécies e de estaturas variadas. Numa
primeira faixa, junto ao mar, a vegetação é mais baixa por conta dos ventos.
Mais para o interior, ela costuma adquirir porte arbustivo e arbóreo.
Manguezal é um ecossistema
basicamente vegetal que se desenvolve em outro ecossistema: o estuário
intertropical. O estuário é formado pela mistura da água doce com a salgada.
Encontraremos estuário nos rios da Prata, São Lourenço e Tejo, mas não
manguezais neles porque esses rios desembocam aquém e além dos trópicos.
Além de restingas e manguezais,
existiam também, na zona costeira de 15 mil anos passados, ilhas litorâneas,
baixios argilosos e arenosos, costões rochosos, falésias e campos salgados. Com
o aquecimento global natural do Holoceno, as grandes geleiras derreteram e o
nível do mar subiu cerca de cem metros. Sim, leitor, a elevação do nível do mar
é possível. Já aconteceu e pode acontecer novamente. Nós podemos dar uma ajuda
para isso aquecendo o planeta e derretendo as grandes geleiras ainda existentes,
o que, aliás, já vem acontecendo.
A configuração dos mares e
continentes a partir de 5 mil anos criou uma nova linha costeira, redefinindo
as ilhas litorâneas, os baixios, os costões rochosos, as falésias, os
estuários, as restingas e os campos salinos. Os povos que habitaram
primeiramente os ambientes costeiros emersos desenvolveram uma economia de
coleta, pesca e caça para fins de subsistência, e não comerciais. Alguns já
conheciam a agricultura de subsistência. Portanto, tais ambientes não foram
destruídos, já que eram fundamentais para a sobrevivência dessas comunidades.
Os povos dos sambaquis revelam com clareza a dimensão de proteção dos
ecossistemas sem a necessidade de leis escritas.
Então, os europeus chegam ao continente
americano com os vikings. Ainda não havia armas de fogo. Os vikings chegaram a
fundar algumas colônias na América do Norte, mas acabaram repelidos pelos povos
nativos. Chegaram então os espanhóis e os portugueses com suas doenças, seus
canhões e sua economia de mercado. A natureza americana também se tornou um
estoque de recursos com fins lucrativos. Os manguezais começaram a ser
disputados por pescadores e curtumes. No Rio de Janeiro, no fim do século XVII,
os jesuítas cercaram uma enorme área de mangue e privaram a população de
extrair madeira. Houve reclamação junto ao rei. Os moradores civis da cidade
ganharam o direito de destruir o mangue.
Nos séculos XIX, XX e XXI, a luta
entre interesses contrários se acirrou em torno dos manguezais. Pedro Soares
Caldeira escreveu brilhantes artigos a respeito dos manguezais da baía da
Guanabara em 1884. Hoje, a carcinicultura e a urbanização avançam aceleradas
sobre os mangues. As restingas também estão sendo devastadas por atividades
rurais e urbanas. Recorro a casos que conheço bem de perto. Primeiramente, a
vegetação de grande porte das restingas foi cortada para fornecer lenha e
madeira, principalmente lenha. Na área aberta, agricultura e pecuária passaram
a ser praticadas. Em alguns pontos, instalaram-se complexos portuários e
núcleos urbanos. Pousadas e hotéis ergueram-se nas restingas. A atividade
turística cresceu. As leis sempre foram insuficientes para restingas e
manguezais num mundo em que as leis se distanciam das práticas.
O governo brasileiro reconhece a
existência de seis biomas em suas fronteiras. A WWF/Brasil reconhece sete. Além
dos grandes biomas, a organização internacional inclui a Zona Costeira como
bioma. Faz sentido. A vegetação de restinga pode provir dos biomas da Amazônia,
da Mata Atlântica e dos Campos do Sul. Os manguezais não são provenientes
desses três biomas. Eles vêm navegando. Embora dependam dos nutrientes
transportados pelos rios que descem desses três biomas, eles apresentam especificidade.
O mesmo pode ser aplicado às ilhas costeiras, aos costões rochosos, às
falésias, às restingas e aos campos salgados (marismas).
Biomas brasileiros segundo o
governo do Brasil
A Zona Costeira não é bem protegida
nem pelo nosso sofrível Código Florestal nem pela Lei da Mata Atlântica, como
se esperaria desta segunda, já que se entende a Zona Costeira como parte da
Mata Atlântica. Daí a complementação representada pelas Resoluções Conama 302 e
303, agora revogadas pela boiada do Ministro Ricardo Salles. Que diferença em
Salles e Paulo Nogueira Neto! Enquanto o primeiro assume de forma anacrônica o
desmonte da frágil estrutura de proteção ambiental, Paulo Nogueira Neto iniciou
sua construção em pela ditadura militar. Diplomas infralegais são frágeis. A
Zona Costeira merece uma lei para sua proteção. Mas só ela não basta. Os
empresários que se esforçam em se descolar da destruição da Amazônia deviam
fazer o mesmo com a Zona Costeira.
Biomas do Brasil segundo a WWF
Adorei!!!!
ResponderExcluirObrigado, Jaquie
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