FENDAS NO TEMPO
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 22 de abril de 2020
Fendas no tempo
Edgar Vianna de Andrade
No cinema, a Terra e a humanidade
estão constantemente ameaçadas. Para os animais, a inconsciência é um dom
incomparável. Os animais não souberam que um grande corpo celeste atingiu o
planeta a 66 milhões de anos passados. Não sabem que vírus e micróbios podem
matá-los. Não sabem que vão morrer de velhice. Parece que os elefantes
pressentem a morte, mas só quando ela está muito próxima.
Do espaço, pode vir um asteroide, um
ET ou um organismo patogênico. Da Terra, os humanos podem ser atacados por
vírus, micróbios, vermes, aranhas, escorpiões, insetos, ratos etc. Nós não estamos
livres nem do passado. De repente, um fenômeno natural ou nós abrimos, com ou
sem intenção, uma fenda no tempo por onde passam animais vorazes que nos
atacam. Podemos também entrar em refúgios de seres considerados extintos e
tirá-los de lá. Em outro meio, eles se tornam uma grande ameaça aos humanos.
Creio
que o primeiro filme a abrir essa fenda no tempo foi “O mundo perdido”,
dirigido por Harry O. Hoyt e lançado em 1925. Ingleses buscam dinossauros na
Amazônia e os encontram. Um brontossauro é levado para Londres e, assustado,
promove muita destruição até sumir nadando no rio Tâmisa. “King Kong”, filme de 1933 dirigido por Merian C. Cooper e Ernest
B. Schoedsack, mostra um grande macaco que teve a mesma sorte do brontossauro.
Ele estava em paz numa ilha perdida em que mantinha um pacto com os indígenas
até ser descoberto por ocidentais, sempre gananciosos. A fenda do tempo foi
atravessada mais uma vez e por ela King Kong, o grande gorila, foi levado para
Nova Iorque, onde fez muito estrago até ser morto. Houve pelo menos duas boas
refilmagens de King Kong.
Daí em diante, a fenda do tempo foi cruzada várias vezes
num sentido ou no outro. Em 1954, o genial diretor Jack Arnold promoveu um
encontro casual de pesquisadores estadounidenses com um monstro que vivia
sossegado numa lagoa da Amazônia. “O monstro da lagoa Negra” transformou-se num
clássico. Vários outros filmes enfocaram essa fenda. Geralmente classificados
como filme B, ou seja, com pequeno orçamento e muitas vezes confundindo-se com
o “Trash”.
Dando um salto de 60 anos, aparece na tela o filme “O
ataque dos insetos”, lançado em 2003 e dirigido por Joseph Conti. Tecnicmente,
o cinema evoluiu muito em termos de efeitos visuais nesse tempo todo, mas não
tanto em talento. A construção de um túnel de metrô ultramoderno por um
empresário inescrupoloso abre uma fenda por onde espécies de insetos do período
carbonífero passam e atacam a humanidade. Só se pode ver uma libélula gigante e
mortal porque todos os demais são escorpiões não classificados com insetos. E o
Carbonífero é muito mais antigo do que mostrado no filme. Entram em cena, como
sempre, um policial e uma cientista, como se fossem os únicos do mundo a poder
tratar da ameaça. O terceiro elemento é uma tropa especial. O quarto é um
empresário que só se interessa por dinheiro. Cheio de erros científicos, o
filme é sofrível.
Em 2010, Alexandre Aja dirigiu “Piranhas 3D”, peixes
extintos que viviam no fundo da Terra e passaram para o nosso mundo quando um
cataclisma abriu uma fenda. As piranhas atacam pessoas nuas e vestidas que se
divertiam na água, arrancam pés, mãos, dedos, peitos até serem destruídas por
uma explosão. A nudez feminina é estampada de forma sensacionalista. Então, o
oscarizado Guillermo del Toro toma a batuta para lançar “Círculo de fogo 1”, em
2013. Também uma fenda no tempo permite a passagem de monstros que atacam a
“civilização”. Os humanos os empurram para o lugar de onde nunca deveriam ter
saído. Mas os monstros retornam em “Círculo de fogo 2: a revolta”, de 2018, sob
direção de Steven S. DeKnight. De novo são mandados para a toca, agora com a
promessa dos humanos de que o próximo ataque será no terreno dos monstros.
Mas
ainda em 2018, uma fenda se abre no fundo dos oceanos e permite que tubarões
extintos no nosso mundo o invadam provenientes do passado terrestres. Trata-se
de “Megatubarão”, dirigido por Jon Turteltaub e voltado para o grande mercado
chinês. Os monstros fazem miséria, mas são combatidos pelo forte e másculo
Jason Statham.
Cada
monstro ameaça a Terra como uma pandemia, mas os heróis salvam a humanidade com
sua força, inteligência e saber. Precisamos de um desses heróis na presidência
do Brasil e no Ministério da Saúde.
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