Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 04 de novembro de 2020
Chiclete espacial
Edgar Vianna de Andrade
“American
graffiti” é o segundo filme dirigido por George Lucas. Ele data de 1973. No
Brasil, recebeu o título de “Loucuras de verão”. Assisti a esse filme no cinema
Goitacá e fui tomado de profunda nostalgia. Lembrei dos anos de 1950,
principalmente pelas músicas da trilha musical do filme. As loucuras dos jovens
brasileiros naquela década eram bem diferentes, mas incluíam filmes como o de
Lucas e “A Última Sessão de Cinema”, dirigido por Peter Bogdanovich e lançado em
1971.
De
certa forma, ambos os filmes evocam vários outros produzidos na própria década
de 1950, como “A bolha”, por exemplo, dirigido por Irvin S. Yeaworth Jr. Em
1958. Trata-se de um filme típico da época retratando um dos três temores
daquele tempo: os perigos da ciência, uma nova guerra nuclear e a invasão de
extra-terrestres. Este último não era tão real quanto os outros dois. Mas
rendia filmes. Em certas situações, os invasores eram usados como metáforas
para situações terrestres, como o comunismo e o macarthismo.
“A
bolha” é o terceiro filme de Steve MacQueen. Embora jovem e fazendo papel de
jovem, ele já aparece com a fisionomia que teria até sua morte. Os ingredientes
do filme são praticamente os mesmos do gênero. Numa cidade do interior, onde
todos se conhecem, destacam-se famílias tradicionais, um xerife que multa os
moradores sem piedade e um médico pronto a atender a todos em qualquer horário.
E jovens. Jovens que se pegam em beijos molhados e consguem se controlar, mais
porque o controle estava na censura aos filmes. Jovens que se pegam em disputas
de carros daqueles grandes. Jovens que levam uma vida monótona mas sempre vivem
fortes aventuras numa pequena cidade.
“A
bolha” começa com um roque daqueles cantados por Celi Campelo em que se ouve ao
fim o espocar de uma bolha de chiclete. É uma cativante composição de Burt
Bacharat. Trata-se mesmo de um filme juvenil em que o rapaz deve viver uma
aventura de adulto juntamente com a mocinha bonita, de busto empinado, cintura
fina e saia plissada. Se nada há para fazer à noite, que os namorados se beijem
enquanto admiram estrelas cadentes. Uma entre elas descreve trajetória
estranha. O casal a procura mas um homem velho, pobre e solitário (outro
ingrediente de época) se adianta e descobre que o objeto é um ovo do qual sai
uma gosma que o mata.
A
bolha veio do espaço e absorve as pessoas. É uma bolha assassina que cresce à
madida em que engole ser vivo. Mas ela
tem um ponto fraco, pois os monstros sempre têm um ponto vulnerável. Caberá à
inteligência do mocinho descobrir a vulnerabilidade da bolha para dominá-la. E
ela assume porporções gigantescas. Rolando pelas ruas, ela entra num cinema,
aterroriza o público e alcança uma lanchonete. Essa é a cena marcante do filme.
Hoje, é rízivel e me pergunto se na época podia causar algum medo nos
espectadores. Mas seu ponto fraco é explorado. Como sempre, as forças armadas
entram na cidadezinha e resolvem o problema. Mas há um exagero no filme que
revela um lado de comédia e de farsa. Por trás da seriedade, existe uma grande
brincadeira.
“A
bolha” foi filmado em cores. Fitas em preto-e-branco parecem dar mais segurança
ao diretor. Irvin S. Yeaworth Jr. não filma muito bem. Roger Corman, seu
contemporâneo, com menos recursos, trabalha melhor como diretor. Ele dirigiu
alguns filmes mais do gênero ficção científica, mas não foi muito longe. Dez
anos depois, houve uma refilmagem com o nome de “A bolha assassina”, dirigido
por Chuck Russel e contando com mais recursos técnicos. Mas o filme original
funciona apenas como inspiração.
Comentários
Postar um comentário