O VELHO JUDEU
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 28 de julho de 2020
O velho judeu
Edgar Vianna de Andrade
Existem duas imagens do judeu: a do
pré-1948 e a do pós-1948, Antes da proclamação de independência de Israel,
exatamente em 1948, o judeu era visto como perseguido e injustiçado.
Imperadores romanos expulsaram-no de sua sagrada Palestina entre os anos 70 e
135 d.C. É a conhecida diáspora, que espalhou os judeus pelo mundo. É curioso
como os judeus transformaram substantivos comuns em substantivos próprios.
Diáspora é dispersão. Vários povos foram dispersados pelo mundo por meios
violentos. O mais conhecido exemplo é de habitantes africanos espalhados nas
colônias europeias na América como escravos. Contudo, parece que só os judeus
sofreram essa injustiça. Não é mais diáspora, mas Diáspora. Ao fundarem Israel,
os judeus promoveram a diáspora de palestinos, evento pouco conhecido.
Genocídio significa o extermínio de
um povo ou pelo menos a tentativa de extermínio. Os judeus passaram a usar um
termo específico para o genocídio que eles sofreram sob o nazismo: holocausto.
Os índios da América e os armênios, estes sob o jugo otomano, sofreram
genocídio, mas poucas pessoas têm ciência desses massacres em massa.
“O Golem”, filme de 1920 dirigido
por Paul Wegener na Alemanha, enfoca o velho judeu. Um velho astrólogo vê nas
estrelas perigo iminente para uma comunidade judia no Império Austro-Húngaro,
que não existe mais. De fato, o imperador envia um mensageiro a essa comunidade
para levar uma notícia desagradável. Não é propriamente racismo o que
discrimina o povo judeu, mas alguma sorte de preconceito cultural, algo que os
próprios judeus alimentavam por se considerarem uma comunidade superior aos
demais povos em virtude de sua religião. O próprio mensageiro, que era nobre,
apaixona-se por uma judia.
Um mago judeu fabrica um grande
boneco de barro. Nele é insuflada vida. O boneco é grande e forte. Como não
havia muitos recursos especiais na época em que o filme foi produzido, um homem
alto e forte foi caracterizado para ser o Golem, entidade integrante da cultura
popular judaica. O Golem é uma espécie de Golias do bem pró-judeu. O rabino da
comunidade vai ao palácio do imperador fiado na proteção do Golem, que o
acompanha. O rabino apela para uma velha amizade entre ele e o imperador, por
favores prestados no passado.
Era dia de festa e o Golem é
apresentado em seus poderes sobre-humanos. É natural que um povo discriminado e
perseguido crie heróis imaginários. Convencido dos poderes do grande boneco de
barro e renovando a velha amizade com o rabino, o imperador revoga o decreto
antissemita. O rabino volta para sua comunidade acompanhado do boneco de barro.
Inverte-se, então, a situação. O
Golem é maltratado pelos judeus e se defende. Como trunfo, ele se apodera de
uma menina. Todos temem por sua vida, mas ela, assim como Davi frente a Golias,
desativa o gigante com um simples gesto, pois seu poder vital dependia de uma
espécie de botão estelar em seu peito.
Originalmente, o filme tem duração
de 1:24 minutos, mas na versão simplificada mais conhecida, a duração foi
reduzida para 68 minutos. Destaca-se a fotografia do lendário Paul Wegener. Um
filme recente intitulado “A lenda do Golem” foi lançado em 2019. A direção
coube a Doron Paz e Yoav Paz. Pelos cenários e pelo clima sombrio, o filme de
1920 é um representante clássico do expressionismo alemão. É comum comparar a
figura gigantesca do Golem ao mostro criado pelo Dr. Frankenstein, mas
diferenças entre ambos são notórias.
O velho judeu era protegido por
gigantes lendários, como o Golem. Hoje, o novo judeu se protege com um poderoso
exército e possantes aviões e armas. As figuras lendárias podem ser
aposentadas.
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