VAMPIROS DO ESPAÇO SIDERAL
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 23 de junho de 2020
Vampiros do espaço sideral
Edgar Vianna de Andrade
Que eu saiba, existem três tipos de
vampiros no cinema: os clássicos mortos que são ressuscitados em rituais
secretos para trabalhar como escravos no Haiti; os decorrentes de alguma epidemia,
radiação nuclear ou fenômeno espacial; e os extraterrestres sugadores de almas
e de sangue humano. Os do primeiro tipo receberam atenção em filmes quase
esquecidos hoje, como “Zumbi branco”, dirigido por Victor Halperin em 1932.
Vários outros na mesma linha se seguiram. Antes mesmo que George Romero
lançasse o seu famoso “A noite dos mortos vivos”, em 1968, o zumbi oriundo de
algum fenômeno natural já fazia sua aparição no cinema, assim como o zumbi
sobrenatural sobreviveu com dificuldades. “Sugar Hill, dirigido por Paul
Maslansky em 1974 é um exemplo. Parece que este velho zumbi está voltando.
Mas o zumbi extraterrestre existe há
muito tempo. Ele estreou na ficção científica em 1897 pelas mãos do escritor
britânico H.G. Wells, autor de “Guerra dos mundos”. Marcianos invadem a terra
para pilhar seus recursos, sendo o sangue humano o principal deles. Os E.T.
padeciam de anemia. Seu poder de destruição era insuperável, mas eles não
tinham anticorpos para os micro-organismos terrestres e acabaram morrendo
contaminados. Duas adaptações do livro para o cinema tornaram-se as mais
conhecidas: uma de 1952, dirigida por Byron Haskin, e outra de 2005, com
direção do famoso Steven Spielberg.
O segundo filme de zumbi espacial é
classificado como B. Trata-se de “Vampiros
de almas”, dirigido por Don Siegel em 1956. O filme se tornou icônico. Numa
pequena cidade dos Estados Unidos, pessoas começam a manifestar comportamento
estranho. Um medico descobre que seres extra-terrestres estão substituindo as almas de humanos e
invadindo a Terra. Pode-se ler o filme como uma ficção científica clássica. De
fato, seriam ETs usando uma tática inteligente para dominar a Terra. Do ponto
de vista politico, poder-se-ia supor que os invasores eram comunistas, já que
se vivia o auge da guerra fria, que inspirou muitos filmes enquanto vigorou.
Por fim, a interpretação que acabou por predominar foi a da reação
anticomunista liderada pelo senador McCarthy. Quem poderia imaginar que um
filme B pudesse se tornar um clássico? Ele acabou por merecer refilmagens. O
polêmico Abel Ferrara, em 1993, dirigiu “Os
Invasores de Corpos” e, em 2007, “A
invasão”, com direção de Oliver Hirschbiegel e James McTeigue. A guerra
fria já havia acabado, tirando das duas refilmagens o contexto político da
década de 1950.
Em 1957, Roger Corman, o mestre do filme B, lança “Emissário
de outro mundo”. Um extraterrestre vem à Terra disfarçado de homem para roubar
sangue humano e enviar para seu planeta. As vítimas começam a aparecer e
levantam suspeita. A enfermeira escalada para cuidar de um paciente com doença
rara vai percebendo coisas estranhas. Uma mulher do mesmo planeta vem à Terra e
acaba infectada pelo vírus da raiva numa transfusão. Já usando o truque do
gancho para franquias, o grande vampiro espacial é aparentemente morto. Mas ele
aparece vivo no final.
O quarto filme é “Eles vivem”, dirigido por John Carpenter em 1988. Um
mendigo descobre que invasores siderais estão entrando na Terra com disfarce
humano. Óculos especiais permitem distinguir os humanos dos invasores. Os
alienígenas se associam a ricos empresários para estimular o consumo e os
gastos de incautos. Mensagens subliminares são enviadas para que os “normais”
consumam sempre mais. Os humanos ricos e colaboradores podem visitar o planeta
dos invasores.
Dos quatro filmes comentados, três revelam forte caráter político.
“Guerra dos mundos” é uma parábola à contaminação de povos nativos pelos
ocidentais. “Invasores de almas” é polissêmico. Mas fiquemos com a
interpretação mais conhecida. Trata-se de uma crítica velada ao macarthismo.
“Eles vivem” é um forte libelo ao capitalismo.
Se algum desses filmes ou todos eles
despertaram o interesse do leitor cinéfilo, que ele os procure em qualquer
plataforma de streaming. É certo que não os encontrará.
Comentários
Postar um comentário