PANDEMIA NA LUA
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 19 de maio de 2020
Pandemia na Lua
Edgar Vianna de Andrade
Poucas pessoas sabem que existiu na
Lua uma civilização avançadíssima. Foram seres em forma de abelhas gigantes que
a constituíram. Esses seres desenvolveram sistemas moto-perpétuos movidos à
energia solar e sistemas sofisticados de comunicação com tradutores de qualquer
língua. O governo era centralizado. Não havia guerra. Quando as abelhas
operárias não tinham mais o que fazer, eram adormecidas até serem novamente
necessárias. Não havia desemprego. Não era necessária remuneração, pois elas
não gastavam energia quando adormecidas. Acima de tudo, a ciência e a paz,
embora o governo fosse único e centralizado. Uma sociedade-colmeia muito
superior à nossa.
Tratava-se de um mundo bem parecido
com o que sonhava o socialista H.G. Wells. Ele foi descoberto com a primeira
viagem feita à Lua por um cientista, um homem de negócio e sua noiva em 1899. O
professor tomou posse das terras selenitas em nome da rainha Vitória, fincando
uma bandeira britânica e deixando uma mensagem. Não foi com Viagem à Lua, filme de Georges
Méliès, de 1902, que a Lua foi alcançada pela humanidade nem com a quando Neil
Armstrong colocou os pés nela em 1969. Pouco
antes, em 1964, uma missão tripulada chegou até o satélite da Terra e encontrou
a bandeira deixada pelos vitorianos em 1899. Confundindo realidade com ficção,
foi o filme “Os primeiros homens na Lua”, dirigido por Nathan Juran, que
mostrou a chegada ao satélite e o contato com seus habitantes em 1899.
Quem criou o cenário lunar e de seus
seres foi Ray Harryhausen, famoso por sua técnica de animação “stop motion”.
Ele foi o principal representante dessa técnica e vai merecer um comentário
especial em breve. Da Lua, os astronautas que lá chegaram
em 1964 informaram que haviam encontrado a bandeira britânica e o bilhete. Pela
assinatura, foi possível chegar ao homem de negócios que fez a viagem espacial
de 1899. Ele já estava bastante velho e vivia num asilo. Todos o consideravam
lunático pelas palavras sem nexo que proferia. De fato, era lunático por ter
estado na Lua em 1899.
O
filme se destaca por tentar reconstituir a era vitoriana em seu final. Uma bela
e moderna moça que dirigia automóveis e desejava se casar com um homem de
negócios que dizia possuir uma casa no campo vizinha da mansão de um cientista
solteirão e maluco. Ele acabou revelando sua invenção: um produto que, passado
em algum objeto, eliminava a ação da força de gravidade no corpo revestido e se
afastava da Terra. Em trajes vitorianos, os dois homens embarcaram numa nave em
forma de poliedro. A mulher entrou por acaso.
O
cenário construído pelos selenitas é futurista, assemelhando-se ao de Marte em “Aelita, a rainha de Marte”,
filme de 1924 dirigido por Yakov Protazonov. Comprovando-se as palavras do
único sobrevivente da primeira viagem em 1899, os astronautas de 1964
confirmaram a civilização das abelhas gigantes e informaram que elas foram
totalmente extintas. O cientista socialista que optou por morar entre
elas estava gripado e as contaminou. Wells deixou a crítica final ao ocidente,
que contaminou os nativos da América e da Oceania com doenças euroasiáticas.
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