TODO MUNDO MUITO LOUCO
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 25 de agosto de 2020
Todo mundo muito louco
Edgar Vianna de Andrade
Quem procurar na internet os
melhores filmes sobre automóveis encontrará “Taxi driver” (1976), “Rush: no
limite da emoção” (2013), “Ford vs Ferrari (2019), “Gran Torino” (2008),
“Encurralado” (1971), “Velozes e furiosos” (2001) e alguns outros como a
animação “Carros”, da Disney, por exemplo. Nem todos são sobre carros. Neles,
apenas os automóveis ocupam um lugar de destaque, como em “Gran Torino”. “Encurralado”
é o primeiro filme de Steven Spielberg. Trata-se de uma produção curiosa por
enfocar um caminhão com vida própria. Ou ele ou seu motorista, ambos morrendo
no final, mas deixando a dúvida sobre quem encurralava. “Christine, o carro
assassino”, de John Carpenter, que flerta com o ‘trash”, talvez seja o filme
que mais coloca um carro em evidência. Na verdade, trata-se de uma carra que se
apaixona por um jovem e comete muitos crimes por ciúme. Ela é habitada por
algum espírito possessivo.
“Repo-man”, filme de 1984 do
marginal diretor Alex Cox, o mesmo que dirigiu “Sid & Nancy”, é ambientado
na periferia de uma cidade dos Estados Unidos. Muita degradação, muito lixo,
muita violência, muitos visionários. O carro que se destaca é um Chevy 1964, cujo
motorista muito louco sequestrou extraterrestres e os aprisionou na mala do
automóvel. Quem a abre acaba dissolvido por radioatividade. Só restam os
sapatos.
Entre a comédia, a ação e a ficção
científica, o filme traz à tona comportamentos muito comuns depois do festival
de Woodstock em todo o mundo mais ocidentalizado. Os hippies já haviam sido
superados por outras tribos urbanas, como os punks e os místicos, por exemplo.
Punks típicos nunca se criaram em Campos, mas os místicos sim. Eles esperavam
por discos voadores em Atafona, eles invadiam cemitérios à noite para meditar
sobre sepulturas, eles misturavam drogas com chás medicinais. Eles eram tipos
folclóricos que desapareceram e deixaram saudades por representarem a diferença
entre os “normais”.
A “Corporação Mão Amiga” reúne
pessoas que recuperam carros de quem os comprou e não puderam pagar. No meio
deles, existe um rapaz marginal que queima rejeitos num tambor de combustível.
Ele especula sobre aviões que desaparecem no Triângulo das Bermudas, de pessoas
que desaparecem para sempre na América do Sul ou daquelas que aparecem do nada.
Segundo ele, os desparecidos podem ter fugido para o passado e os aparecidos
podem ter vindo do futuro.
No meio dessa marginalidade, o carro
é capturado pelos agentes da “Mão Amiga”, pelos bandidos e pela Força Nacional.
Ninguém consegue se aproximar do carro iluminado pela radiatividade. Apenas o
místico e seu amigo, que levantam voo dentro dele. O filme tem um final poético
porque, afinal, os ETs existem assim como Peter Pan.
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