DESASTRES NUCLEARES
Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 11 de agosto de 2020
Desastres nucleares
Edgar Vianna de Andrade
Quando parecia que o perigo das
armas nucleares estava afastado, deixando, portanto, de ser uma ameaça à
humanidade, ele volta por ocasião dos 75 anos do lançamento de suas bombas
atômicas sobre cidades japonesas pelos Estados Unidos, encerrando a Segunda
Guerra Mundial e enviando uma mensagem para a União Soviética: cuidado com o
tio Sam. Ele pode lançar artefatos como esses sobre vocês, comunistas. Os
apelos para que o tratado de não proliferação de armas nucleares contasse com o
apoio de todos os países foram renovados na cerimônia. A explosão em Beirute
lembrou uma explosão atômica e Noam Chomsky, no seu mais recente livro, adverte
que a guerra nuclear continua sendo uma das três ameaças ao planeta, ao lado
das mudanças climáticas e da erosão da democracia.
O cinema reflete em filmes as três
ameaças apontadas. Um desastre nuclear pode ser causado intencionalmente por
uma guerra, como mostram “Herança
nuclear” (1977) e “O dia seguinte” (1983). Nenhum
supera “A hora final” (1959) em sobriedade e condenação às bombas. Em “O diabo, a carne e o mundo” (1959), o
mundo foi destruído pela energia nuclear, mas não se sabe bem como tudo
aconteceu. Em “O dia em que a Terra se incendiou” (1961), experiências nucleares
arremetem a Terra em direção ao Sol.
Não recordo de filme que aborde um
desastre nuclear por erro. Intencional ou inintencionalmente, é preciso conter
o perigo de uma catástrofe por explosões de bombas nucleares. Os homens, com
suas fraquezas, não podem mais dar garantias de que estamos seguros. É preciso
uma inteligência não sujeita a paixões.
Nada melhor do que um
supercomputador que assuma o controle, desde que nós tenhamos controle sobre
ele. Essa é a pretensão de “Colossus”, filme de 1980 dirigido por Joseph
Sargent. Um cientista à frente de uma equipe constrói um supercomputador que
zelará pela segurança do mundo quanto a uma guerra nuclear. Ele foi alojado
numa caverna e trancado a sete chaves.
A primeira demonstração de
eficiência de Colossus é detectar a existência de um supercomputador como ele
na União Soviética, também criado com a mesma finalidade. Assim como uma
conflagração nuclear, ninguém esperava que os dois supercomputadores se
associassem na tarefa de garantir a segurança do mundo. Mais ainda, ninguém
imaginava que ambos passassem a controlar os humanos, que os inventaram
esperando que teriam controle sobre eles.
Dependendo do caso, as duas potentes
máquinas eliminam quem trama contra elas, como aconteceu com Hall 9000,
supercomputador que operava a nave em que viajavam dois tripulantes, em “2001:
uma odisseia no espaço”, do genial Stanley Kubrick. Mas Hall 9000 acaba sendo
enganado e desligado. Não assim Colossus. Ele é que desliga as pessoas,
significando isso matá-las. Ele passa a controlar a vida cotidiana das pessoas
contra alguma conspiração. Entra até na vida íntima do cientista chefe, que
consegue pelo menos a promessa da máquina que de lhe reservar privacidade
durante à noite com uma falsa esposa.
À noite, na cama, os dois tramam
contra “Colossus”, não dispensando uma pitada de sexo. Mas o computador triunfa
soberano. O filme é uma sátira e, ao mesmo tempo, uma crítica às soluções
humanas. A bomba atômica é uma solução para acabar com a guerra mais como arma
de dissuasão. Mas não podemos confiar muito nessa capacidade. A guerra pode
ocorrer assim mesmo, como no caso dos mísseis de Cuba, em 1962, que beirou uma
nova guerra. Ainda bem que ficou no quase. Mas as experiências também são
perigosas. E existe o risco de um acidente. Então, criamos um computador para
controlar os riscos. Contudo, ele acaba nos controlando.
Acima de tudo, “Colossus” é uma
discreta comédia.
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