HOMINÍDEOS NO PRESENTE E NO PASSADO
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 11 de julho de 2020
Hominídeos no presente e no
passado
Creio que, enquanto o Homo
sapiens existir, achados sobre seus ancestrais hominídeos e não-hominídeos vão
continuar a ocorrer. Parece que as pesquisas nunca cessarão de encontrar
vestígios desses ancestrais. Mesmo se nossa espécie se transformar num novo
hominídeo, algo como um super ou um infra Homo sapiens, os achados
continuarão. Quando eu comecei a me interessar pelo assunto, o número de
hominídeos extintos era pequeno. Agora, já beira os trinta, se é que já não
alcançou ou ultrapassou esta marca.
Há pouco tempo, os cientistas
encontraram ossos de uma nova espécie nas Filipinas. Antes, já se havia
encontrado lá ossos de um hominídeo anão que, popularmente, foi batizado de hobbit. Cientificamente, recebeu o nome de Homo floresiensis. Com a nova
sistemática, ainda em exame, não sabemos como será classificado. Essa espécie
pareceu uma regressão, pois a tendência no processo evolutivo dos hominídeos
foi ganhar maior estatura na medida em que a postura ereta foi se tornando uma
característica do gênero Homo.
A nova espécie foi batizada de Homo
luzonensis, em alusão à ilha de Luzon, onde os ossos dela foram encontrados. Também
ela tem pequena estatura. Há indícios nos ossos de que ela tinha uma vida
arborícola pelo menos parcial. A equipe que fez a descoberta, formada por
cientistas filipinos, australianos e franceses, estima que o novo Homo (na
verdade antiquíssimo) tenha vivido entre 50 mil a 67 mil anos passados. Nessa
época, houve a dispersão do Homo neandertalenses e do Homo sapiens pela
Europa e pela Ásia.
Reconstituição hipotética do Homo luzonensis
O esqueleto, encontrado numa
caverna, não está completo. Ele se resume a sete dentes, dois ossos das mãos,
três ossos do pé e um osso da coxa. Esses ossos devem pertencer a três
indivíduos: dois adultos e uma criança. Apesar de poucos, os vestígios fornecem
muitas pistas tanto sobre a anatomia quanto ao modo de vida do Homo luzonensis.
Os dentes sugerem que ele teria em torno de 1,2 metro de altura, talvez mesmo
até mais baixo que o Homo floresiensis.
O que mais chamou a atenção dos
cientistas no Homo luzonensis não foi a sua baixa estatura, já que o Homo
floresiensis também é uma espécie de pigmeu. O tamanho deste segundo já havia
levado os estudiosos a alguma conclusão que valeria também para o Homo
luzonensis. O enigmático nesse novo hobbit são os ossos dos pés. Um deles é
curvo, assemelhando-se à anatomia de espécies muito antigas e que não saíram da
África, como as do gênero Australopithecus, que viveram entre 2 a 3 milhões
de anos atrás. Trata-se de um indício de que o Homo luzonensis tinha uma vida
terrestre, andando sobre duas pernas, como as espécies do gênero Homo, mas
também uma vida arborícola. Seus pés indicariam a capacidade de subir em
árvores com facilidade.
Dentes do Homo luzonensnsis
Regressão a um estilo de vida já
superado? Não existe regressão, a menos que seja atavismo. Exemplo: uma mulher
pode nascer com mais de dois pares de mamas por reminiscência de mamíferos
anteriores aos primatas. Mas as fêmeas humanas não desenvolverão mais que dois
pares de mamas por seleção natural por não precisar de tanta mama. No entanto,
um osso do pé pode se tornar curvo novamente por seleção natural de um meio em
que a necessidade de viver no solo e em árvores exija a adaptação.
Osso do pé do Homo luzonensnsis
Nem o Homo luzonensis nem o
Homo floresiensis apresentem características anatômicas que os relacionem diretamente
ao Homo erectus. Terão os hominídeos saído da África antes do que se supõe?
Terá uma migração se encaminhado para o extremo oriente, gerando espécies pequenas
e ainda parcialmente arborícolas? Outra migração teria dado origem às espécies
mais semelhantes ao Homo sapiens?
A hipótese mais consistente,
segundo os estudiosos, é que, de fato, o Homo luzonensisis descenda do Homo
erectus, até agora o primeiro hominídeo a sair da África, ocupando a Eurásia. Posteriormente,
o isolamento de um grupo na ilha de Luzon levaria à redução de estatura e à
adaptação a uma vida parcialmente arborícola que exigiu mudanças anatômicas nos
pés, como o osso curvo.
Indaga-se ainda como o Homo
luzonensis teria chegado a Luzon, já que a ilha, no Pleistoceno (período que a
nova espécie viveu), nunca se conectou ao continente. Aventa-se que os
primeiros hominídeos teriam chegado à ilha navegando em algum tipo de
embarcação. Aventa-se também que algum fenômeno natural, como um tsunami, os
teria transportado para lá. Cabe agora sequenciar o genoma da nova espécie e
tentar desvendar seu enigma. No DNA da espécie humana, há traços do Homo
denisova e de uma espécie fantasma, cujo cadáver ainda não foi encontrado.
Cabe continuar a procurá-lo, como um detetive. Os cientistas devem sempre
contar com esses mistérios, como é o caso do novo coronavírus, e ter o espírito
desprendido para abandonar hipóteses e teorias, já que a natureza sempre
oferece charadas. As outras espécies não se preocupam com elas, mas o ser
humano fica incomodado em viver sem respostas. Até mesmo para o sobrenatural,
que escapa às explicações científicas.
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