TIRO PELA CULATRA
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 02 de junho de 2020
Tiro pela culatra
Edgar Vianna de Andrade
Nas proximidades de uma pacata
cidadezinha do interior norte-americano, um objeto voador não identificado se
choca contra o solo. Nos filmes estadunidenses, é muito comum que eventos de
alcance mundial comecem em pequenas cidades. Elas sempre contam com invejáveis
viaturas da polícia e dos bombeiros. Autoridades e voluntários correm para o
local. Trata-se, aparentemente, de um meteoro. Voluntários apagam o fogo. Um
cientista é logo convocado para opinar. Segundo ele, se fosse um meteoro, uma
cratera profunda se formaria com a colisão e isto não aconteceu. Quem
interpreta o cientista é Gene Barry, artista que imortalizará o caubói da série
Bat Masterson, não fazendo muito mais que isso. Logo aparece a mocinha mais
bela e mais frágil da cidade. Seu nome é
Sylvia, desempenhada por Ann Robinson. Ele já morreu, mas ela segue viva com 91
anos. É uma das incríveis mulheres. Sabe dar estridentes gritinhos de pavor.
Mas, atenção! Algo de move no corpo
celeste ainda fumegante. Uma tampa se abre e um periscópio aparece. Não se
trata de um meteoro, mas de um casulo abrigando naves espaciais. Um narrador
onisciente explica que os habitantes de Marte examinam os planetas do sistema
solar há bastante tempo a fim de escolher um que possa lhes fornecer recursos,
já que os deles estão se esgotando. Portanto, os invasores são marcianos. Notar
que a década de 1950 é marcada por temores de invasões, pois a Segunda Guerra
Mundial deixara fortes recordações. Além do mais, a Guerra Fria estava em
curso. Tanto que o início do filme mostra cenas das Primeira e Segunda Guerra
Mundiais, além da explosão da bomba atômica no Japão.
Impiedosamente, as naves espaciais
que saem do corpo celeste exterminam os que desejam paz com os invasores. O
exército é mobilizado. A calmaria da cidade é interrompida pelo acontecimento
imprevisto. As naves avançam e o exército reage com bazucas, mísseis, tanques e
canhões. Protegidas por campos magnéticos, as naves nada sentem e eliminam os
armamentos dos terráqueos. Nem mesmo uma bomba atômica consegue detê-las,
detonada diante de humanos sem nenhuma proteção que nada sofrem com a radiação
derivada da explosão. Poucos conseguem sobreviver, entre eles, o mocinho e a
mocinha. Eles dormem juntos, mas nada acontece. O clima em torno e na década de
1950 não era favorável a romances picantes.
Um ET invade a casa em que o casal
se refugia e o cientista consegue matá-lo. O corpo é levado a um laboratório. O
exame de sangue revela anemia. Embora os Estados Unidos figurem com centro da
invasão, o mundo todo é atingido por bólidos contendo naves. O massacre é
geral. Cidades evacuadas e arrasadas. De repente, um cessar fogo inesperado. As
naves se chocam contra prédios e caem. Os marcianos foram derrotados. Não pelas
forças armadas e pela bomba atômica, mas por bactérias patogênicas para as
quais a humanidade adquiriu anticorpos. Os poderosos armamentos foram inúteis.
Organismos unicelulares, sem qualquer noção de que existem e de que são
perigosos, salvaram a humanidade. Foram os verdadeiros heróis.
Essa a síntese do filme “Guerra dos
mundos”, de 1952, com direção de Byron Haskin. A base para o roteiro foi o
livro de mesmo nome escrito por H.G. Wells no final do século XIX. Em 1938,
Orson Welles simula a invasão da Terra num programa de rádio, lendo páginas de
Wells. A narrativa foi tão convincente que os ouvintes entraram em pânico. O
filme de 1952 é um marco da ficção científica cinematográfica por valer-se de
recursos especiais muito avançados para a época. Trata-se de uma película colorida
em boa definição num tempo em que a maioria dos filmes era em preto-e-branco. Steven
Spielberg dirigirá uma nova versão em 2005, sem muitos acréscimos à trama.
Em tempo de pandemia, é ilustrativo
revisitar o filme.
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