PASSADO, PRESENTE E FUTURO
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 12 de maio de 2020
Passado, presente e futuro
Edgar Vianna de Andrade
Com roteiro de H.G. Wells e Lajos
Biro, produção de Alexander Korda e direção de William Cameron Menzies, foi
lançado em 1936 o filme “Daqui a cem anos”. O filme inglês é considerado um
marco na ficção científica pelo roteiro, direção, orçamento e efeitos especiais.
Ele começa com um tom pessimista e profético. Um personagem pessimista e
cerebral, talvez o alterego de Wells, prevê o início de uma guerra em 1940.
Errou por um ano. O clima era favorável a um conflito mundial, pois nazismo e
fascismo adotaram posição belicosa e expansionista numa Europa tolerante com
Hitler principalmente.
No filme, a guerra eclode e leva a
civilização à barbárie, algo bem típico do pensamento socialista. Wells era um
socialista convicto, mas à moda britânica. Ocorre um retrocesso brutal em
termos de organização social e cultura. Uma grave epidemia assola aqueles que
se comportam como bárbaros em meio aos escombros da civilização. Pandemia é
sinônimo de desentendimento entre os humanos. Até hoje.
Em outra parte do mundo, forma-se
uma organização mundial progressista que tem o mesmo homem anti-belicoso do
início como um de seus líderes. Em avião ultramoderno, ele vai levar aos
vencedores e vencidos uma palavra de salvação, de avanço, de civilização.
Preso, ele será socorrido pela Liga Internacional, em que seus membros falam na
primeira pessoa do plural.
Um corte temporal mostra o neto do
homem inicial como dirigente de uma nação internacional progressista. Em 1936,
os socialistas do mundo inteiro acreditavam na União Soviética como símbolo de
paz e progresso. A primeira grande ruptura ocorreu em 1939, com o Pacto
Nazi-Soviético. No mundo do futuro, os saudosistas são mostrados como reacionários
e como inimigos da tecnologia, do progresso e da paz. O líder personalista não
tolera os dissidentes. Era o futuro dos socialistas otimistas: uma utopia. O
futuro de hoje está repleto de distopias.
A trilha sonora coube a Arthur Bliss,
compositor britânico conceituado em seu tempo. Mais tarde, Ray Harryhausen, o
grande mestre dos efeitos especiais, principalmente em se tratando de stop-motion,
cuidará da sua colorização.
Quinze anos depois, a Segunda Guerra
Mundial já havia acabado, mas o clima reinante no mundo era de insegurança. O
motivo era a corrida nuclear entre Estados Unidos e União Soviética, que
emergiram como duas grandes potências. A Europa deixara de ser o centro do
mundo. Foi então que, em 1951 Robert
Wise lança “O dia em que a Terra parou”. Não havia ninguém no mundo com força
para dar um puxão de orelha nas duas grandes potências. Então Herry Bates
escreveu um texto trazendo um extraterrestre numa nave mais poderosa que os
arsenais da Terra.
Ele se imiscuiu entre as pessoas,
conheceu os hábitos dos terráqueos e, depois de incompreendido e agredido,
lançou uma forte advertência. A Terra poderia ser transformada em poeira, caso
o perigo de uma guerra continuasse pairando entre os humanos, poie ela estava
sendo um fator de desequilíbrio galáctico.
Em 2008, “O dia em que a Terra
parou” foi refilmado com direção de Scott Derrickson. O clima de ameaça não é
mais uma guerra nuclear, mas a crise ambiental. O extraterrestre é uma espécie
de Noé, que vem salvar os vivos não-humanos de um possível e até mesmo provável
colapso do planeta. Ele também conversa com as pessoas, já que não conseguiu
falar com as lideranças mundiais. É outra agora a distopia. O emissário não
ameaça pulverizar a Terra, mas os homens, já que eles não estão sabendo cuidar
de um planeta muito importante para o equilíbrio da galáxia.
O final, contudo, é piegas. Ao
presenciar o amor filial e maternal, ele crê que esse sentimento tão
individualista é regra e não exceção. Parte dando uma chance aos terráqueos de
se redimirem.
Será que o novo vírus veio com essa
missão? Se não veio, está castigando a humanidade.
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