CEM ANOS DE PANDEMIAS
Cem anos de pandemias
Quando alguém afirma que estamos
vivendo uma crise inédita por conta do Coronavid-19, lembro da Gripe Espanhola
em 1918, em suas três ondas. Ela eclodiu no fim da Segunda Guerra Mundial e foi
ocultada pelos países diretamente envolvidos no conflito. Quem deu o sinal de
alerta foi a Espanha por sua posição neutra na guerra. Daí o nome de Espanhola.
Em 1918, estima-se que a população
mundial alcançasse 1,600 bilhão de habitantes. Atingindo os mais isolados recantos
da Terra, a gripe matou entre 17 a 50 milhões, talvez chegando a 100 milhões de
habitantes. Não havia, na época, voos aéreos intercontinentais. O vírus viajou
de navio e afetou inicialmente a população pobre. Depois chegou aos ricos. As
três ondas decorreram das mutações do vírus. Segundo Ruy Castro, o carnaval de
1919, no Rio, foi o maior de todos os tempos. Foi o carnaval dos sobreviventes.
Nele, muitas crianças foram geradas.
Nestes 102 anos, muitos outros vírus
circundaram o planeta. A Gripe Asiática, com 1,1 milhão de mortos; o HIV, que
infectou e matou muita gente causando pânico. Descobriu-se que se tratava de um
vírus seletivo não transmitido por contato simples entre as pessoas, que
chegaram a pensar em transmissão pelo ar. Nos primeiros 20 anos do século XXI,
foram registrados o Ebola, que ficou praticamente confinado à África, o H1N1,
também chamado de gripe suína, a SARS e agora, em 2019-20, o Coronavid-19.
Desde a Gripe Espanhola, uma
epidemia, com epicentro na China, não alcançava o âmbito mundial e se transformava
numa pandemia. Agora, o vírus começou a se disseminar por pessoas com recursos
para voos de avião. O primeiro epicentro foi a China; o segundo a Europa
Ocidental e o terceiro os Estados Unidos. Os polos econômicos passam a ser os
epicentros da pandemia. Talvez preço da riqueza. A globalização facilita a
propagação. Agora, diferentemente da Gripe Espanhola, os cientistas conhecem os
vírus e criaram vacinas para eles.
Mesmo assim, os impactos sobre os
humanos, sobretudo entre os grupos vulneráveis, e sobre a economia
mundializada, têm sido catastróficos. Os especialistas estão entendendo o
isolamento social como a melhor arma de combate. Mas novas ondas, como acontece
com a gripe comum, podem voltar a assolar a humanidade, mesmo com a descoberta de
uma vacina. Parece que estamos fadados a conviver com vírus e a adquirir
resistência a eles naturalmente ou com vacinas. Sairemos dessa pandemia com
muitas pedras. Mas outras devem eclodir.
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