INVISIBILIDADE EM PRETO E BRANCO
(CINCO MATEUSINHOS)
O homem invisível
Invisibilidade em preto e branco
Edgar Vianna de Andrade
Em 1897, o escritor inglês H.G.
Wells escreveu “O homem invisível”, publicado em capítulos num jornal inglês.
No mesmo ano, as partes foram reunidas em livro, considerado hoje o fundador da
ficção científica moderna.
Um médico que deixa a medicina para
se dedicar a estudos de ótica descobre uma fórmula de se tornar invisível. Ele
é prepotente e ambicioso. Para aprimorar sua invenção de modo a poder se tornar
visível e invisível com mais controle, ele se retira da cidade e se hospeda
numa estalagem barata de um vilarejo vizinho. Embora invisível, seu corpo
material continua existindo e sustenta roupas, deixa pegadas e mostra o
alimento ingerido até sua digestão. As unhas e os pés não podem ficar sujos
para não denunciar a invisibilidade. Na estalagem, o clima é de humor. O
próprio cientista brinca com a polícia e com as pessoas, revelando logo sua
invisibilidade e tendo que fugir logo em seguida.
De volta à cidade, ele procura um
colega que se assusta com sua experiência. O homem invisível quer ser poderoso
e, para tanto, não hesita em matar quem lhe bloquear o caminho. O colega,
aproveitando-se do sono do homem invisível, alerta seu outro colega sobre o que
aconteceu. Esse outro colega é pai da noiva do homem invisível, que não existe
na história original. Depois de muita fuga e de muitas peripécias repletas de
humor e drama, o homem invisível é cercado, percebido por suas pegadas e morto
pela polícia.
Quem assistiu a “O homem invisível”,
de 2020, não reconhecerá, na breve descrição aqui feita, o que viu na tela. Não
estou comentando o filme em cartaz, mas a primeira versão do romance de Wells
levada ao cinema em 1933, com direção do famoso James Whale. Depois de dirigir
“Frankenstein” (1931) e “A casa sinistra” (1932), ele usou a liberdade conquistada
no estúdio da Universal para filmar “O homem invisível”. Converter a palavra em
imagem representou um grande desafio para a época. Pode-se escrever que o homem
invisível não viu sua imagem no espelho, mas mostrar uma pessoa retirando a
bandagem do rosto diante de um espelho sem que nada seja refletido de trata de
uma operação muito difícil para um cinema que não contava com os miraculosos
recursos técnicos da atualidade.
Apelando para o “stop motion” e
outros truques de montagem, Whale conseguiu o maior sucesso de sua carreira de
diretor, assim como projetou um grande ator apenas com a voz e cuja rosto só
aparece na última cena. O roteiro do filme não é fiel ao original. Todos os
roteiros adaptados não podem ser fieis a menos que sejam originais. Mesmo
assim, é mais fiel ao livro de Wells que o roteiro atual. Isto não significa
que o atual, escrito por Leigh Whannell, também diretor do filme, seja inferior
ao de 1933. Whannell se inspira em Wells para criar um roteiro atual. Agora,
sai-se do coletivo para entrar-se no doméstico. O cientista é ambicioso, mas
não quer dominar o mundo. Apenas quer manter sua mulher sob seu controle. O
clima de “O homem invisível” atual é de permanente suspense, mas nada tendo do
gênero terror. Tudo é natural. Nada é sobrenatural. Violência contra a mulher é
um tema bastante atual.
Cabe ainda lembrar que o filme de
Whale abriu uma franquia promissora, com “O retorno do homem invisível” e “A
mulher invisível” (1940), “O agente invisível” (1942), “A vingança do homem
invisível” (1942) e até a comédia “Abbott e Costello encontram o homem
invisível” (1951). Wells, Whale e Whannell criaram um marcante personagem. Se a
“Universal” sai do buraco com o novo filme, só o futuro o dirá.
OLÁ,MEU AMIGO.
ResponderExcluirOla
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