ANIMAÇÃO "ADULTA" PARA CRIANÇAS
Folha da Manhã, Campos dos
Goytacazes, 04 de fevereiro de 2020
(TRÊS MATEUSINHOS)
Um espião animal
Animação “adulta” para crianças
Edgar Vianna de Andrade
“Fantasia”, de 1940, segunda grande
animação de Walt Disney, continua sendo, para mim, um marco na técnica. Mário
de Andrade escreveu que não era um filme para crianças, mas para adultos. Além
de animar a música erudita, a equipe (não apenas Disney) inventou abstrações e
produziu uma animação de terror que deixa distante “A família Adams” e “Hotel
Transilvânia”.
Algumas animações foram concebidas
mais para adultos que para crianças.
Nick Bruno e Troy Quane usaram um gênero muito apreciado por adultos
numa animação para crianças. Trata-se de “Um espião animal”, com roteiro de
Brad Copeland. Parece uma homenagem a Will Smith, que, aliás, dubla Lance
Sterling, um dos dois personagens principais. Sterling é negro, alto, esguio,
com um cavanhaque bem ao estilo de Smith. Ele é considerado o maior espião do
mundo. Entra em todos os lugares, descobre tudo, vence multidões de lutadores
treinados etc. Mas encontra Killian pela frente, um arquivilão que compromete o
herói passando-se por ele.
Sterling
tem de sumir por algum tempo a fim de provar sua inocência. Sem querer, ele
acaba encontrando ajuda num jovem cientista genial que trabalha no departamento
de inteligência. Trata-se de Walter Beckett, que guarda uma dor profunda pela
morte da mãe numa ação policial. Fica bem, atualmente, introduzir um pouco de
dor. Afinal, a animação não é mais um mundo encantado e com final feliz.
Roteiristas e diretores estão tentando representar a realidade atual em seus
trabalhos.
Transformado numa ave, Sterling busca comprovar a
sua inocência e capturar o gênio do mal, que, como nos filmes de super-heróis,
não quer apenas praticar um crime comum, mas dominar o mundo. Com truques
mirabolantes, o bem triunfa sobre o mal. A verdade vence a mentira. O
adolescente tem sua genialidade reconhecida. E, como parte da cultura dos
Estados Unidos, o indivíduo é exaltado, ainda que estejamos vivendo uma época
em que as individualidades se apagam no coletivo.
Nada de novo. Gosto sempre de assistir a um filme
nas salas de projeção para sentir a reação do público. Notei a presença de
casais adultos. Parece que a animação “adulta” para crianças é mais uma
animação para adultos infantilizados.
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